O ensino da língua culta x
ensino da variedade linguística
Os professores de
língua materna vivem um dilema constante: ensinar a língua culta ou pautar o
ensino na análise das variedades linguísticas? Esse questionamento tem
levantado promissoras discussões, às vezes, nem tão amigáveis até mesmo entre
os próprios linguistas. A verdade é que se almeja um direcionamento capaz de
situar o ensino de língua materna e que possa amenizar dúvidas sedimentadas.
Ensinar a língua culta aos alunos parece
consenso entre os professores, porém, como ensinar é que tem provocado
contendas. Se por um lado, o ensino pautado na variedade culta tem suas
vantagens ao aluno, por outro, o que dizer do ensino da variedade respeitada
imposta a alunos que nem tampouco conseguem assimilar competentemente a língua
culta prestigiada socialmente e detentora de um poder ideológico
incontestável.
Outra constatação
é verificável quando se põe em discussão o ensino da língua culta versus o
ensino de outras variedades linguísticas. Diz respeito à situação comunicativa
do aluno: assim como ele pode vergonhar-se em usar, muito deficitariamente, o
que aprendeu do português “culto” em um ambiente social que prestigia esta
variedade, não se encontra também à vontade em forçar naquele e em seu meio
social um nível de língua que de fato não incorporou para o seu repertório
linguístico.
Tornar o aluno
competente nos diversos usos da língua é o caminho a ser trilhado na sala de
aula, todavia, tem-se enfrentado uma dificuldade gigantesca em relação ao
ensino-aprendizagem de português, em se pretender levar o aluno a incorporar
uma outra variedade de língua que não seja aquela à qual vive exposto no seu
dia-a-dia e, isso, recai sobre as metodologias adotadas, ou seja, no como
ensinar.
Muitas
são as metodologias para se trabalhar o ensino aprendizagem de língua materna
do ensino fundamental ao nível superior. E a conclusão mais imediata a que se
pode chegar é a de que os ambientes educacionais não têm conseguido propiciar
ao aluno situações e atividades diversificadas e concretas[1]
que favoreçam a competência linguística para se usar, quando necessário, a
variedade culta-padrão e/ou variedades menos prestigiadas. Foi exatamente
pensando nessa questão que propositalmente optamos em titularizar o subcapítulo
em questão “O ensino da língua culta x ensino da variedade
linguística”, haja vista a maioria dos professores de língua assim conceber tal
prática de ensino. Por isso, não obstante, ouvimos professores se questionando
sobre o que ensinar; ressaltamos que não se trata de ensinar ou a língua culta
ou a variedade linguística, e sim, apoiar-se em metodologias capazes abarcar o
ensino de todas as variedades, pois a língua culta não deixa de ser, outrossim,
uma variedade existente na sociedade.
Em relação ao ensino das variedades não cultas?
Será que estas também não deveriam ser objeto de estudo na sala de aula, tendo
em vista que toda língua é constituída por variedade que, por razões
estritamente linguísticas, equivalem-se?
A intenção de
beneficiar o aluno com o domínio da língua culta, desrespeitando todo cabedal
linguístico que ele faz uso, pode provocar consequências drásticas: ou o aluno
limita seus atos comunicativos ou não adquire habilidades suficientes para se
expressar por meio da variedade que lhe é imposta, tendo em vista a falta de
eficiência no ensino da língua culta (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 15). O fato é
que o aluno ainda não vê sua variedade de língua sendo trabalhada com efeito.
Referência
BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Nós cheguemu na escola , e agora ? Sociolingüística & educação .
São
Paulo : Parábola ,
2005.
[1] Marcuschi (2001) apresenta sugestões metodológicas
interessantes acerca do ensino aprendizagem da variedade culta.